quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A primeira de 2024

Não sei quanto tempo ainda tenho, ou se ainda há tempo de resolver tudo que precisa ser resolvido.


Quando tudo vai ficar fácil? Qual é o limite da dor?


Sentir já não sinto mais, só existo. Aliás, não existo. Sobreviver nem sempre é viver.


Um desabafo, por favor. Vamos conversar sobre as dores da vida, talvez a gente se encontre em alguma curva de rio ou fundo de poço.


Garçom, tem aquele destilado que vicia e corroe por dentro? Sirva duas doses, por favor. Uma pra mim e outra para a pessoa que eu me tornei.


Me perdoe a interrupção. Continue, por favor. Lamente suas dores sobre meus ouvidos, vou me atentar aos seus trejeitos enquanto presto atenção em cada palavra que sai da sua boca.


Até que esse veneno me vença. Até que eu perca a luta.


Garçom, fecha a conta e passa a régua. O bar já fechou e eu ainda estou aqui.


Sozinho.


Eu e a pessoa que me tornei.

domingo, 10 de dezembro de 2023

O frio, a fome, o medo e a lição de vida

De tudo que fazemos, de tudo que falamos, de tudo que escolhemos e de tudo que omitimos, um pedacinho de nós fica pra trás. Estranho mesmo seria viver 30 anos do mesmo jeito. Não dos 0 aos 30, nem dos 10 aos 40, mas talvez entre os 25 e 55. Esse intervalo, esse maldito intervalo, é onde o coração escolhe se vai bater por um rosto ou por todos, por uma razão ou alguma. É quando temos um mero relance da vida e imaginamos que somos melhores que todos os demais que ou já passaram pelos nossos anos de vida, ou sequer chegaram lá ainda. Somos todos cheios de si.

O problema de ser cheio de si, mon coeur,  é que dentro de nós não temos coisas bonitas. Não temos sonhos. Sabe-se lá como, um dia, sequer vão provar que uma alma, nós temos. O que sabemos, cientificamente, é que dentro de nós temos uma mistura de vísceras, órgãos, gordura, água e merda. Muita, merda. Não somos belos, mas sim, o que fazemos nos torna belos.

Obviamente que a beleza visual é muito vaga, porém, o que é belo aos olhos comuns costuma possuir certa "unanimidade": Cores, formas, sabores, odores e desejos. Sim, o desejo tona tudo belo, oras. De que valeria o título de miss universo, se não para ser o desejo de homens e mulheres querendo ser como você? O desejo de um almoço específico, quando se está faminto, torna aquela experiência tão comum, de comer, em algo belo. Pessoas tornam obras cênicas belas, tal qual tecidos tornam costuras em belas peças, e o desejo de marca X ou Y faz seu preço subir. A raridade do ouro, que o torna tão precioso, tem certa beleza filosófica, uma vez que se imagina que o ouro jamais se tornará de uso corriqueiro do homem e mulher comuns. Enfim, a beleza (À beleza).

Diante de tudo isso, o que é realmente belo aos seus olhos? Quais belezas você tem refletido de si para o mundo? Suas palavras aos corações atentos que te conhecem tornam qualquer conversa numa verdadeira lição de vida, tamanho desejo de se compartilhar algo especial com quem tanto se ama.

Eu realmente deveria estar dormindo, mas sinto que a vida quer algo de mim hoje. Algo especial, algo belo, que ela deseja. Mas, o quê? Como saber o que o Universo deseja de belo desta pobre alma? Meu brilho é tão ínfimo e limitado diante da grandeza do Universo, mas nós somos escolhidos, diariamente, para repassar a nossa beleza, tão desejada pelo Universo. Não, você não contagia o Universo quando está num trabalho comum das 09:00 às 18:30, mas todos que você tocar, conviver ou simplesmente conhecer, podem ser contagiados pela sua beleza, esta mesma que o Universo anseia. Somos luz, brilhamos, e infelizmente algumas pessoas ainda escolhem o caminho da dor, solidão, raiva e coisas às quais nem darei lugar para aparecerem neste texto.

Entre uma partida e outra, meu pensamento se desfia com singela delicadeza quando penso:

"Se todas as palavras possíveis já foram escritas, então, é possível saber tudo que vai acontecer, basta juntar todas as palavras em todas as combinações. Estas combinações resultarão em frases, e estas frases, em coisas que vão acontecer na nossa vida, ou que já aconteceram. É possível prever o futuro desta forma? Sim e não. Sim, pois todas as combinações já foram escritas, porém, não, pois não é possível se escrever sobre o que ainda irá acontecer, pela pura simplicidade de que nosso livre arbítrio é, verdadeiramente, o que nos diferencia dos animais.

Perdi a mão.

O pé.

A mente.

A alma? Não... A alma, não.

Jamais.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Pitch Black (Escuridão)

Caminhando por entre os milhares de universos que minha mente se divide, hoje fui levado a visitar meus vales sombrios e solitários. Seus ventos uivantes e gélidos cortam meu rosto descoberto, e a pouca luz que se vê provém da lua. Caminho em um vale que possui um rio à minha direita, e sinto a vibração da água a cada passo que dou. Medito em pensamentos tão profundos que um som incomum, ao fundo, quase passa desapercebido. Geralmente, é aqui que venho quando preciso ficar só, quando preciso entender os motivos de minha tristeza, mas não hoje. Nesta data, visito este lugar apenas para apreciar sua beleza e para reorganizar meus pensamentos. Não quero e nem vou praticar julgamentos sobre as atitudes das pessoas, porque não controlo nem meus próprios sentimentos. Sinto que estou sendo observado, e isso me incomoda profundamente. Olho ao redor, mas não vejo nada. Continuo minha caminhada, mas sinto sua presença cada vez mais perto. Olho pelos meus ombros, e entre um passo e outro, enxergo meus demônios. Um a um, todos meus males se manifestam, formando um círculo ao meu redor, e eles não entendem o motivo pelo qual eu os encaro de volta, olhos nos olhos. Cá estou, malditos defeitos, o que querem de mim? Vocês. Malditos. Não podem me fazer mal algum, porque eu carrego vocês comigo. Sem mim, vocês não existiriam, e hoje, a única coisa que vai ser alimentada, é a minha vontade de mudar e ser melhor. 

Sigo meu caminho. Eu caminho. Caminho sem parar. Toda a angústia e a dúvida ficarão para trás, porque hoje, eu sou a luz que iluminará. Sou o feixe de luz que brilhará mais do que nunca! Eu quero, eu posso e eu consigo. Nada me detém.

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Rogerio Olanda

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Batidas na janela

Já é noite, e lá fora o barulho da chuva se confunde com alguns gritos. Acho que morar no centro tem dessas. Chuva de verão, que cai forte, violentando o asfalto e as pobres almas que não possuem abrigo. Uma sirene ao fundo faz as vezes da cereja do bolo, mas nem isso é capaz de me atrair.

Estou só, como de costume. Aliás, estamos apenas eu, e ela, a insônia. Parceira de longa data, relacionamento abusivo e duradouro. Já tentei fazer ela ir embora, mas descobri que ela vive dentro de mim, e eu não posso cobrar aluguel. A chuva subitamente aumenta, o que parecia impossível, sendo que não se vê mais um palmo à sua frente.

Penso em ligar uma música para me motivar a fazer alguma coisa da vida além de ficar sentado, mas a ideia logo passa. O teto parece mais interessante a essa altura. Em meio ao som de fundo da chuva, tenho a sensação de estar sendo observado. Olho por cima do meu ombro direito, desconfiado, mas nada ali no corredor, além daquela velha sensação de que não estou só.

Após algum tédio, ou melhor, algum momento tedioso, sinto novamente uma presença, dessa vez, do meu lado direito. Desencosto da poltrona, faço um giro completo de 360º e nada além da penumbra e da chuva. De repente, ouço uma batida na janela. Dessas bem familiares, feita com a unha. Será alguém me chamando, sem querer me assustar? Ou será que alguém está querendo abrigo?

De qualquer forma, não penso em atender. As batidas são fora de ritmo, mas começam a intensificar-se, assim como o frio gélido que me sobe a espinha e me deixa imóvel, em pé, no meio da sala, de frente para a janela. A maldita janela.

"Oi..." eu ouço, do outro lado. Não respondo.

"Eu sei que você está me ouvindo. Quer fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil?". Uma voz não necessariamente feminina ou masculina, apenas diferente. Parece que vem de dentro da minha mente, e eu, em pânico, fico parado.

"Eu não esqueço.", a voz diz, batendo a unha na minha janela, em tom amistoso; e eu não consigo pensar em nada. Minhas pernas tremem, minha boca fica completamente seca e eu consigo ouvir meu coração batendo.

Gradativamente, assim como a chuva vai finalizando o seu trabalho na rua, as batidas se encerram e a sensação de estar sendo observado, também. Sento no chão da sala, levo as duas mãos à cabeça por um momento, me levanto, tomo coragem e vou até a janela. Vejo pequenas ranhuras no vidro da janela do meu apartamento. Pelo visto, morar no 12º andar não me ajudou a deixar o passado para trás.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A corda

 A corda.

A súbita inspiração.


O mal viciante que sufoca até a que a dor acabe.


A corda.


Que prontamente vai ao mar atrás do marujo em perigo.


A corda!


Que fiz com os teus cabelos vermelhos e te dei de presente naquele Natal sangrento.


ACORDA.


Que hoje é dia de vida, não dia de morte.


ACORDA!


Porque eu não posso viver sem você.


acorda. por favor.